13 março 2008

A simplicidade é o genial. Assim se faz um clássico


Charles Chaplin e "O garoto"

Música da sexta-feira

Tire esse medo da cara, não diga nada
largue esse gosto amargo do seu colar
que eu cheguei foi pra ficar.
Se eu chorei foi de saudade, amor,não foi de dor não,
se eu brinquei foi só maldade,
mas agora é calmaria.

Quando eu chegar na Frei Serafim
laços de fita, meu bem, acene pra mim,
não quero dinheiro, mas me vendo por inteiro
pois seu beijo é um pretexto
pra eu ficar no Piauí.

Não quero dinheiro, mas me vendo por inteiro
pois seu beijo é um pretexto
pra eu morar no Piauí.


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... e a última sexta-feira voltou a ser sinônimo de diversão, hein, nadjinha...

22 fevereiro 2008

Ou isto ou aquilo


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O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva:


- Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não tem mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas.


- Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite.


- Numericamente sim, mas não tem capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga o leite fora, em vez de jogar os garotos.


Carlos Drummond de Andrade


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20 fevereiro 2008



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Cesarion: "Vou esmagá-lo, cuspir na cara dele, vingar a morte de minha mãe, recuperar o nome de meu pai..."
Pullo: (risinho) "Olha... sobre seu pai..."

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E assim termina Roma, a série mais fantástica que já assisti em toda a minha vida! Mas advirto logo que sou suspeitíssima pra falar, porque história - ainda mais a antiga - é uma paixão...

Quem já viu entendeu porque eu transcrevi (com as palavras que me lembro, não deve tá 100% igual) esse diálogo final: porque resume todo o espírito da série.

"Roma", com primor, conseguiu manter uma grande fidelidade às verdades históricas (inclusive àquelas que vão contra o estabelecido no senso comum) e, ao mesmo tempo, adaptou ficção a estas verdades, numa verdadeira aula de licença poética. Mesclou personagens cultuados pela história com sujeitos fictícios da plebe, fazendo com que estes últimos, simples plebeus que, a priori, não teriam relevância alguma, interferissem na vida dos primeiros e, assim, na próprio curso da história!

Divertido imaginar que a república romana começou a ir pro brejo por causa da briga de bar de um soldado (e não é que existe a frase: um pulo - Pullo é o nome do soldado - derrubou a república?); que o desenrolar de fatos na vida de um outro simples legionário (também fictício) foi o que possibilitou aos senadores matar César, em pleno senado; que, enfim, o filho de Cleópatra com César (Cesarion)... bem, não vou estragar a surpresa... A questão é que, apesar desses fatos serem em parte fictícios, fazem-nos pensar sobre como a história possui delicados momentos "de virada", e que quaisquer pessoas, com um pouco de sorte (ou azar), podem acabar interferindo neles. No mínimo divertido de imaginar...

Outro efeito trazido pela série (principalmente se você assistir vários episódios seguidos) é a sensação de voltar no tempo e viver o cotidiano de outra época, de dois milênios atrás! O dia-a-dia em Roma é tão bem retradado que parece que estamos vivendo dentro de algum daqueles livrinhos de escola "Como seria sua vida no Império Romano" (alguem aí se lembra dessa coleção?).

Bom, fica então a sugestão: as duas únicas temporadas da série já estão nas locadoras, são ao todo 22 episódios com as (brincando de ser tiete) maiores estrelas da época: Júlio César ("só é arrogância se eu perder"), Cícero ("para o bem da república? estou cansado da vaidade desses jovens, não se engane, é tudo vaidade"), Otávio Augusto (nessa época não era augusto, era pirralho...), Marco Antonio (affe...), Pompeu, Brutus, Cleópatra (nariz igualzinho) e, than-than, Átia (pra quem não sabe, a mãe do Otávio e, simplesmente, a melhor personagem de toda a série! Mas que mulher!!!)

14 fevereiro 2008

Classe Média - Max Gonzaga

Sou classe média,
papagaio de todo telejornal
Eu acredito na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
compro roupa e gasolina no cartão
Odeio coletivos e vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos, estou sempre no limite do meu cheque especial
Viajo pouco, no máximo um pacote CVC trianual

Mas eu "Tô nem aí" se o traficante é quem manda na favela
Eu não tô nem aqui, se morre gente ou tem enchente em itaquera
Que quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com o Estado
Quando sou incomodado pelo pedinte esfomeado que me estenda a mão

O pára brisa ensaboado
É camelô bijú com bala
E as peripécias do astista, malabarista do farol

Mas se o assalto é em moema, o assassinato é nos jardins e a filha do executivo é estuprada até o fim.
Aí a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal

E eu que sou bem informado
concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal.

Porque eu "Tô nem aí" se o traficante é quem manda na favela
Eu não tô nem aqui, se morre gente ou tem enchente em itaquera
Que quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

Por quê ter um blog...

Olá, amigos e amigas,

Há algum tempo já tinha a vontade de criar um blog. Depois, então, de muito enrolar e deixar pra amanhã, eis me aqui.

Como primeiro post, achei bom fazer uma “introdução” para este blog, explicar a o que ele se destina. Em outras palavras: vamos brincar de filosofar um pouquinho...

Em primeiro lugar, pensemos acerca da questão da comunicação. Ora, obviamente, a comunicação entre as pessoas é o que permite a organização das sociedades, o surgimento e constante renovação das idéias e, por conseqüência, o desenvolvimento das civilizações (podemos dizer: e a evolução da humanidade?). Assim, uma comunicação eficaz é a base de todo processo histórico, eis que ela é quem gera o diálogo, o debate, o confronto de idéias, o aprimoramento destas e, por fim, as lutas e transformações sociais. Daí conclui-se que, quanto mais eficaz a comunicação, mais profundas e concretas serão as transformações sociais.

Hoje, com a evolução dos meios de comunicação de massa, a informação é transmitida num ritmo alucinante, enquanto que, durante a maior parte da história humana, uma simples carta poderia demorar meses para alcançar seu destino. Mas aí é que surge a pergunta: a eficácia da comunicação restringe-se somente à sua rapidez? O processo histórico-social de comunicação não conta com outros elementos avaliativos?

Tal questionamento é de suma importância para nos fazer enxergar o seguinte: não basta termos os mais rápidos meios de comunicação se eles não abrem espaço para os mais variados setores da sociedade, pois aí se estaria liquidando a diversidade e o confronto de idéias e, portanto, o verdadeiro debate.

Os meios de comunicação de massa, nesse sentido, fazem jus ao nome que levam: “de massa”, no literal sentido de massa homogeneizada pela alienação do pensamento, formando-se, nas mais variadas perspectivas, o que Nietzsche, em uma delas, chamou de “moral de rebanho”.

Ora, tal comunicação “de massa” é deturpada, não-dialética, não provoca, assim, transformações sociais, apenas reitera o status quo dominante; é falha, portanto, no objetivo máximo e essencial da comunicação em níveis históricos: mostrar, continuamente, o caminho a ser seguido pela humanidade, não a deixando estancar em determinado ponto.

Uma comunicação eficaz, ao contrário, que se presta a tal objetivo, traz o diálogo como elemento supremo. E, no verdadeiro e legítimo diálogo, absolutamente todos os sujeitos sociais, grupos majoritários e minoritários, possuem – não apenas formalmente, mas materialmente – o direito a voz, expressando livremente suas idéias e opiniões; tais idéias e opiniões são colocadas e embasadas de forma honesta, ou seja, com fatos não deturpados, estatísticas verdadeiras, etc; a alteridade é praticada, ouvi-se o outro sinceramente e analisa-se suas idéias colocando-se no seu lugar; e, desse processo dialógico (e dialético), nasce um consenso (ou, em outras palavras, uma síntese), que vêm a representar a melhor solução (em pequena perspectiva) e caminho (em larga perspectiva) a ser seguido naquele exato momento. Por isso é que o processo não deve parar, deve ser contínuo; a continuidade do diálogo mostrará, a todo tempo, o próximo passo a ser seguido. Não existe, assim, “a verdade” e soluções absolutas; o que existe é um processo legítimo que mostra, continuamente, as melhores soluções (tal pensamento, inclusive, guarda estreitas semelhanças à ética do discurso de Habermas, uma vez que esta não traz conteúdos materiais determinados, e sim estabelece o diálogo como forma de alcançá-los).

De tudo isso podemos concluir o seguinte:

1) Para avançarmos como sociedade, é imprescindível que “as verdades”, “os caminhos” e “as soluções” sejam continuamente mostradas através de um processo verdadeiramente dialógico; o fim correto é aquele alcançado através de um processo correto. Nas palavras de um amigo, chegamos hoje à conclusão de que, na verdade, “são os meios que justificam os fins”;

2) Um processo dialógico se faz através do confronto (permeado pela honestidade e alteridade) de idéias, advindas de todos os segmentos e grupos sociais; isto se configura, essencialmente, como um processo democrático;

3) Apesar da rapidez na divulgação da informação, os atuais meios de comunicação de “massa”, em sua maioria, não cumprem uma comunicação eficaz, eis que não abarcam o processo dialógico acima descrito e servem, sistematicamente, à reprodução da ideologia (e conseqüentemente, do status quo) dominante. Para fins didáticos e despretensiosamente, chamaremos esta força mantenedora do status quo (e tudo que a envolve) de hegemonia, e denominaremos esses meios de comunicação de massa não-dialógicos (seja porque não possuem a representatividade dos vários segmentos e grupos sociais, só divulgando a mensagem de uma única classe; seja porque, quase sempre, não procedem de forma honesta, deturpando fatos e estatísticas; seja porque, apesar de tudo isso, ainda se auto-intitulam “imparciais”) de grande mídia.

4) A contra-hegemonia, ao contrário, seria a força que traz a mensagem contrária à manutenção do status quo; em outras palavras, a que provoca o confronto com as idéias da hegemonia e, a contra-gosto desta última, mantém vivo o diálogo na sociedade, o que possibilita as transformações sociais e a construção de novos caminhos. Chamaremos, também de forma despretensiosa, os meios de comunicação vinculadores da mensagem contra-hegemônica de mídia alternativa.

5) Para concluir, assim, acerca da importância da mídia alternativa na nossa sociedade, transcrevo aqui o comentário que fiz no blog de um amigo em relação à revista Le Monde Diplomatique:

“A grande importância de publicações como a Le Monde Diplomatique revela-se no fato de que uma revolução democrática só pode ser promovida através de uma real conscientização; e esta, por sua vez, para ter largo alcance, necessita de eficazes meios de comunicação, canais por onde a informação flua sem barreiras e distorções; por onde fatos, números e estatísticas, contrários à mensagem hegemônica da elite, sejam revelados; e por onde, enfim, do contraponto à grande mídia, chegue-se, necessariamente, a pelo menos uma conclusão: a de que a pretensa e propalada "imparcialidade" desta última (que exemplo melhor do que a revista Veja?) não passa de um equívoco ideológico - pra não dizer uma hipócrita mentira...”

6) A questão da grande mídia e das mídias alternativas (e tudo o que ela acarreta), desta forma, estará sempre rondando, direta ou indiretamente, por este blog, até e justamente porque (agora chegamos ao cerne desta “introdução”) entendo que um blog nada mais é do que um espaço de comunicação que, pelo seu formato, tende a ser essencialmente dialógico;

7) Analisemos: a Internet, hoje em dia, é o meio de comunicação de largo alcance mais democrático que existe. Não existe, teoricamente, um “dono” da Internet, ao qual você precisaria pagar para publicar informações e idéias. Na rede, a comunicação é livre, tem-se de tudo, navega-se pelo “mundo inteiro” e por toda a gama de pensamentos, organizam-se grupos e estratégias, troca-se informações, confere-se dados, conhece-se pessoas... É claro que ainda não é um meio perfeito, eis que o seu suporte material, um computador, é inacessível para boa parte da população do mundo; mas é necessário entender que trata-se, como disse, de um suporte material, e não do meio de comunicação em si; e todos os meios de comunicação, obviamente, possuem um suporte material: a televisão, por exemplo, era um artigo de luxo assim que foi lançada, mas hoje é encontrada em praticamente quase todas as casas, por mais humildes que sejam. Provavelmente, nesse sentido, o mesmo acontecerá com o computador (não consigo fazer uma previsão do tempo que demorará...). E a vantagem deste em relação à televisão é, justamente, o meio de comunicação mil vezes mais democrático que possibilita: a Internet. Quem assiste à televisão é telespectador, sujeito passivo que apenas recebe a mensagem de quem tem poder econômico suficiente para estar na telinha. Quem acessa a Internet, ao contrário, é protagonista e construtor dela, tem a possibilidade de estabelecer uma comunicação verdadeira (ida e volta da mensagem, diálogo), com absolutamente qualquer pessoa.

8) Os blog’s, portanto, são o reflexo concreto dessa possibilidade dialógica da Internet. Ora, amigos e amigas, vocês estão aqui, há várias linhas, lendo este post, e, diretamente, eu não paguei nada para colocá-lo aqui. Digo mais: mesmo com todo o dinheiro do mundo, várias das idéias que pretendo postar aqui jamais seriam publicadas na, sei lá, Veja, no máximo receberiam o sarcasmo estúpido do Diogo Mainardi... Assim, só posso enxergar os blog´s como um espaço altamente democrático de discussão e troca de idéias.

Bom, minha gente, fica então a mensagem inicial: este blog tá nascendo com o intuito de ser um espaço essencialmente dialógico, de debate, de troca de idéias. Pretendo trazer pra cá temas como a sustentabilidade, não no sentido falacioso que vêm, várias vezes, sendo utilizado, mas no sentido de projeto de civilização, ou seja, como um conceito que vai muito além do mero conservacionismo do meio ambiente; que figura, na verdade, como uma mudança nas bases estruturais da sociedade, acarretando transformações em todos os âmbitos e níveis – econômico, social e cultural. Da larga abrangência desse tema surgem, conseqüentemente, outros, tais como a já citada questão da mídia, dos movimentos sociais, do consumismo desenfreado, da educação, da proteção à infância e juventude, da valorização das culturas populares e regionais, etc, etc, etc.

Aqui e acolá procurarei postar também uma crônica do Vinícius, um poema do Drummond, fazer uma filosofia de boteco sobre a vida, homenagear os queridos amigos... vocês sabem, essa parte que lembra diário de adolescência (e como é bom, eu mesma tive um, rsrsrs)...

Bom, é isso, acabei me alongando pra caramba...

Um grande abraço a tod@s!!!! Sintam-se à vontade, esse espaço é nosso!!!

Bella.