Sou classe média,
papagaio de todo telejornal
Eu acredito na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
compro roupa e gasolina no cartão
Odeio coletivos e vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos, estou sempre no limite do meu cheque especial
Viajo pouco, no máximo um pacote CVC trianual
Mas eu "Tô nem aí" se o traficante é quem manda na favela
Eu não tô nem aqui, se morre gente ou tem enchente em itaquera
Que quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com o Estado
Quando sou incomodado pelo pedinte esfomeado que me estenda a mão
O pára brisa ensaboado
É camelô bijú com bala
E as peripécias do astista, malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema, o assassinato é nos jardins e a filha do executivo é estuprada até o fim.
Aí a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado
concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal.
Porque eu "Tô nem aí" se o traficante é quem manda na favela
Eu não tô nem aqui, se morre gente ou tem enchente em itaquera
Que quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida
14 fevereiro 2008
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Um comentário:
Adoro blogs, mas eu morro de preguiça de atualizar o meu. rs
Estar classe média é foda. Não somos os exploradores-mor, os banqueiros, os industriais, os empresário. Não passamos o final de semana na Europa. Mas também não somos os mais espoliados, oprimidos, falidos e desvalidos. Temos o suficiente para viver. E nos recolhemos a insignificância dessa suficiência. Ficamos nessa apatia consetida, nessa concordância com tudo. Se o preço de algo sobe, tudo bem, podemos bancar. Se somos assaltados, culpamos o assaltante ou o governo pela falta de segurança. Mas nunca protestamos. No máximo culpamos. Ser classe média é foda =/
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