14 fevereiro 2008

Por quê ter um blog...

Olá, amigos e amigas,

Há algum tempo já tinha a vontade de criar um blog. Depois, então, de muito enrolar e deixar pra amanhã, eis me aqui.

Como primeiro post, achei bom fazer uma “introdução” para este blog, explicar a o que ele se destina. Em outras palavras: vamos brincar de filosofar um pouquinho...

Em primeiro lugar, pensemos acerca da questão da comunicação. Ora, obviamente, a comunicação entre as pessoas é o que permite a organização das sociedades, o surgimento e constante renovação das idéias e, por conseqüência, o desenvolvimento das civilizações (podemos dizer: e a evolução da humanidade?). Assim, uma comunicação eficaz é a base de todo processo histórico, eis que ela é quem gera o diálogo, o debate, o confronto de idéias, o aprimoramento destas e, por fim, as lutas e transformações sociais. Daí conclui-se que, quanto mais eficaz a comunicação, mais profundas e concretas serão as transformações sociais.

Hoje, com a evolução dos meios de comunicação de massa, a informação é transmitida num ritmo alucinante, enquanto que, durante a maior parte da história humana, uma simples carta poderia demorar meses para alcançar seu destino. Mas aí é que surge a pergunta: a eficácia da comunicação restringe-se somente à sua rapidez? O processo histórico-social de comunicação não conta com outros elementos avaliativos?

Tal questionamento é de suma importância para nos fazer enxergar o seguinte: não basta termos os mais rápidos meios de comunicação se eles não abrem espaço para os mais variados setores da sociedade, pois aí se estaria liquidando a diversidade e o confronto de idéias e, portanto, o verdadeiro debate.

Os meios de comunicação de massa, nesse sentido, fazem jus ao nome que levam: “de massa”, no literal sentido de massa homogeneizada pela alienação do pensamento, formando-se, nas mais variadas perspectivas, o que Nietzsche, em uma delas, chamou de “moral de rebanho”.

Ora, tal comunicação “de massa” é deturpada, não-dialética, não provoca, assim, transformações sociais, apenas reitera o status quo dominante; é falha, portanto, no objetivo máximo e essencial da comunicação em níveis históricos: mostrar, continuamente, o caminho a ser seguido pela humanidade, não a deixando estancar em determinado ponto.

Uma comunicação eficaz, ao contrário, que se presta a tal objetivo, traz o diálogo como elemento supremo. E, no verdadeiro e legítimo diálogo, absolutamente todos os sujeitos sociais, grupos majoritários e minoritários, possuem – não apenas formalmente, mas materialmente – o direito a voz, expressando livremente suas idéias e opiniões; tais idéias e opiniões são colocadas e embasadas de forma honesta, ou seja, com fatos não deturpados, estatísticas verdadeiras, etc; a alteridade é praticada, ouvi-se o outro sinceramente e analisa-se suas idéias colocando-se no seu lugar; e, desse processo dialógico (e dialético), nasce um consenso (ou, em outras palavras, uma síntese), que vêm a representar a melhor solução (em pequena perspectiva) e caminho (em larga perspectiva) a ser seguido naquele exato momento. Por isso é que o processo não deve parar, deve ser contínuo; a continuidade do diálogo mostrará, a todo tempo, o próximo passo a ser seguido. Não existe, assim, “a verdade” e soluções absolutas; o que existe é um processo legítimo que mostra, continuamente, as melhores soluções (tal pensamento, inclusive, guarda estreitas semelhanças à ética do discurso de Habermas, uma vez que esta não traz conteúdos materiais determinados, e sim estabelece o diálogo como forma de alcançá-los).

De tudo isso podemos concluir o seguinte:

1) Para avançarmos como sociedade, é imprescindível que “as verdades”, “os caminhos” e “as soluções” sejam continuamente mostradas através de um processo verdadeiramente dialógico; o fim correto é aquele alcançado através de um processo correto. Nas palavras de um amigo, chegamos hoje à conclusão de que, na verdade, “são os meios que justificam os fins”;

2) Um processo dialógico se faz através do confronto (permeado pela honestidade e alteridade) de idéias, advindas de todos os segmentos e grupos sociais; isto se configura, essencialmente, como um processo democrático;

3) Apesar da rapidez na divulgação da informação, os atuais meios de comunicação de “massa”, em sua maioria, não cumprem uma comunicação eficaz, eis que não abarcam o processo dialógico acima descrito e servem, sistematicamente, à reprodução da ideologia (e conseqüentemente, do status quo) dominante. Para fins didáticos e despretensiosamente, chamaremos esta força mantenedora do status quo (e tudo que a envolve) de hegemonia, e denominaremos esses meios de comunicação de massa não-dialógicos (seja porque não possuem a representatividade dos vários segmentos e grupos sociais, só divulgando a mensagem de uma única classe; seja porque, quase sempre, não procedem de forma honesta, deturpando fatos e estatísticas; seja porque, apesar de tudo isso, ainda se auto-intitulam “imparciais”) de grande mídia.

4) A contra-hegemonia, ao contrário, seria a força que traz a mensagem contrária à manutenção do status quo; em outras palavras, a que provoca o confronto com as idéias da hegemonia e, a contra-gosto desta última, mantém vivo o diálogo na sociedade, o que possibilita as transformações sociais e a construção de novos caminhos. Chamaremos, também de forma despretensiosa, os meios de comunicação vinculadores da mensagem contra-hegemônica de mídia alternativa.

5) Para concluir, assim, acerca da importância da mídia alternativa na nossa sociedade, transcrevo aqui o comentário que fiz no blog de um amigo em relação à revista Le Monde Diplomatique:

“A grande importância de publicações como a Le Monde Diplomatique revela-se no fato de que uma revolução democrática só pode ser promovida através de uma real conscientização; e esta, por sua vez, para ter largo alcance, necessita de eficazes meios de comunicação, canais por onde a informação flua sem barreiras e distorções; por onde fatos, números e estatísticas, contrários à mensagem hegemônica da elite, sejam revelados; e por onde, enfim, do contraponto à grande mídia, chegue-se, necessariamente, a pelo menos uma conclusão: a de que a pretensa e propalada "imparcialidade" desta última (que exemplo melhor do que a revista Veja?) não passa de um equívoco ideológico - pra não dizer uma hipócrita mentira...”

6) A questão da grande mídia e das mídias alternativas (e tudo o que ela acarreta), desta forma, estará sempre rondando, direta ou indiretamente, por este blog, até e justamente porque (agora chegamos ao cerne desta “introdução”) entendo que um blog nada mais é do que um espaço de comunicação que, pelo seu formato, tende a ser essencialmente dialógico;

7) Analisemos: a Internet, hoje em dia, é o meio de comunicação de largo alcance mais democrático que existe. Não existe, teoricamente, um “dono” da Internet, ao qual você precisaria pagar para publicar informações e idéias. Na rede, a comunicação é livre, tem-se de tudo, navega-se pelo “mundo inteiro” e por toda a gama de pensamentos, organizam-se grupos e estratégias, troca-se informações, confere-se dados, conhece-se pessoas... É claro que ainda não é um meio perfeito, eis que o seu suporte material, um computador, é inacessível para boa parte da população do mundo; mas é necessário entender que trata-se, como disse, de um suporte material, e não do meio de comunicação em si; e todos os meios de comunicação, obviamente, possuem um suporte material: a televisão, por exemplo, era um artigo de luxo assim que foi lançada, mas hoje é encontrada em praticamente quase todas as casas, por mais humildes que sejam. Provavelmente, nesse sentido, o mesmo acontecerá com o computador (não consigo fazer uma previsão do tempo que demorará...). E a vantagem deste em relação à televisão é, justamente, o meio de comunicação mil vezes mais democrático que possibilita: a Internet. Quem assiste à televisão é telespectador, sujeito passivo que apenas recebe a mensagem de quem tem poder econômico suficiente para estar na telinha. Quem acessa a Internet, ao contrário, é protagonista e construtor dela, tem a possibilidade de estabelecer uma comunicação verdadeira (ida e volta da mensagem, diálogo), com absolutamente qualquer pessoa.

8) Os blog’s, portanto, são o reflexo concreto dessa possibilidade dialógica da Internet. Ora, amigos e amigas, vocês estão aqui, há várias linhas, lendo este post, e, diretamente, eu não paguei nada para colocá-lo aqui. Digo mais: mesmo com todo o dinheiro do mundo, várias das idéias que pretendo postar aqui jamais seriam publicadas na, sei lá, Veja, no máximo receberiam o sarcasmo estúpido do Diogo Mainardi... Assim, só posso enxergar os blog´s como um espaço altamente democrático de discussão e troca de idéias.

Bom, minha gente, fica então a mensagem inicial: este blog tá nascendo com o intuito de ser um espaço essencialmente dialógico, de debate, de troca de idéias. Pretendo trazer pra cá temas como a sustentabilidade, não no sentido falacioso que vêm, várias vezes, sendo utilizado, mas no sentido de projeto de civilização, ou seja, como um conceito que vai muito além do mero conservacionismo do meio ambiente; que figura, na verdade, como uma mudança nas bases estruturais da sociedade, acarretando transformações em todos os âmbitos e níveis – econômico, social e cultural. Da larga abrangência desse tema surgem, conseqüentemente, outros, tais como a já citada questão da mídia, dos movimentos sociais, do consumismo desenfreado, da educação, da proteção à infância e juventude, da valorização das culturas populares e regionais, etc, etc, etc.

Aqui e acolá procurarei postar também uma crônica do Vinícius, um poema do Drummond, fazer uma filosofia de boteco sobre a vida, homenagear os queridos amigos... vocês sabem, essa parte que lembra diário de adolescência (e como é bom, eu mesma tive um, rsrsrs)...

Bom, é isso, acabei me alongando pra caramba...

Um grande abraço a tod@s!!!! Sintam-se à vontade, esse espaço é nosso!!!

Bella.

2 comentários:

Ciro Monteiro disse...

Oi Bella! Sem dúvida a comunicação tem um papel estratégico na dinâmica da sociedade. Ela tem essa possibilidade libertadora, é verdade, mas ela também pode ser um um meio para uma dominação, a medida que existem "n" variáveis que podem estar inseridas no seu contexto.
Por exemplo, quando um engenheiro diz que determinada área é de risco e que pessoas não podem morar lá, a comunicação entre esses moradores e o técnico esta prejudicada pelo o fosso do saber e autoridade técnica.
Um paciente quando fala com um médico tem um instante para falar sobre sua saúde, mas esse tempo é extremamente restrito e o médico adestrado a ouvir só o que lhe convém.
Poderia até se dizer que nesses casos, não a comunicação, mas os envolvidos nesses casos estão diretamente interessados em se comunicar com membros de grupos distintos da sociedade. Nesses casos, a uma potencial possibilidade de diálogo,mas que acaba sufocada pelas determinantes sociais.

Gabriel Magalhaes disse...

Isabella,

Quase cometo o pecado de publicar um blog com o mesmo título que o seu. Tucum na minha vida tem outra conotação, lá ele é fruto literalmente, e não anel de tucum como propõe você, com causa social e tudo.

Bom saber que existe alguém que utiliza esse nome tão gostoso à poesia.